Uso de medicamentos para a saúde mental cresce no Brasil; especialistas alertam sobre cuidados essenciais

A saúde mental é um tema que, nos últimos anos, ganhou uma atenção significativa na sociedade brasileira, especialmente em razão dos efeitos colaterais da pandemia de Covid-19. A velocidade com que as informações sobre saúde mental estão circulando e o crescente uso de medicamentos indicam que estamos diante de um fenômeno que precisa ser cuidadosamente analisado. A comercialização de antidepressivos e estabilizadores de humor cresceu consideravelmente no Brasil, mostrando um aumento de cerca de 58% nas vendas entre 2017 e 2021, conforme dados do Conselho Federal de Farmácia.

Esse crescimento não é um fato isolado. Antes da pandemia, estimativas revelavam que aproximadamente 193 milhões de pessoas no mundo viviam com transtorno depressivo maior e 298 milhões com transtornos de ansiedade. Contudo, em um primeiro ajuste após a pandemia, essas cifras saltaram para 246 milhões e 374 milhões, respectivamente. É preocupante perceber que quase um bilhão de indivíduos ao redor do planeta enfrenta algum tipo de condição de saúde mental, e no primeiro ano do isolamento social, houve um aumento global de 25% na prevalência de depressão e ansiedade.

Com a demanda crescente por antidepressivos, especialistas alertam sobre a importância de um acompanhamento médico rigoroso e os riscos de uma utilização indiscriminada destes fármacos. Este artigo busca explorar as nuances do uso de medicamentos para a saúde mental no Brasil, analisando os mecanismos de ação desses remédios, os riscos associados e proporcionando um espaço para a discussão sobre o que pode ser feito para mitigar os problemas relacionados à saúde mental.

Como funcionam os medicamentos

Os medicamentos que atuam no tratamento de condições de saúde mental, como os antidepressivos e estabilizadores de humor, têm um funcionamento específico no organismo humano. De acordo com o professor Wellington Barros da Silva, da Universidade Federal de Sergipe e consultor do Conselho Federal de Farmácia, esses fármacos atuam nos mediadores químicos, que são substâncias naturais produzidas pelo nosso corpo e que influenciam diretamente nosso estado emocional. Neurotransmissores como a dopamina e a serotonina são essenciais nesse processo, pois sua produção adequada é fundamental para o equilíbrio do humor.

Quando uma pessoa sofre de depressão ou ansiedade, a produção e a regulação desses neurotransmissores ficam comprometidas. Os medicamentos entram em cena para regular a produção dessas substâncias e, assim, aliviar os sintomas relacionados a essas doenças. Os ansiolíticos, por exemplo, têm a função de inibir a atividade cerebral através do efeito de um neurotransmissor chamado GABA (ácido gama-aminobutírico), proposto por especialistas como Alline Cristina de Campos, professora da USP. O GABA atua como um indutor de relaxamento, ajudando a diminuir a ansiedade ao facilitar a inibição da atividade elétrica no cérebro.

É importante frisar que, embora esses medicamentos possam trazer alívio, eles não são uma solução mágica. A intervenção médica e terapêutica é fundamental para guiar o paciente no uso desses fármacos, que, se utilizados de forma inadequada, podem trazer consequências prejudiciais.

Riscos do uso indiscriminado

O uso indiscriminado de antidepressivos e ansiolíticos pode levar a um quadro de dependência, um risco que deve ser levado a sério. O professor Silva explica que, ao longo do tempo, a exposição contínua a esses medicamentos pode levar o corpo a se acostumar a eles, resultando na diminuição natural da produção dos neurotransmissores que o medicamento está imitando. Isso significa que, ao interromper abruptamente o uso do medicamento, o paciente pode experimentar sintomas de abstinência que, em alguns casos, podem ser severos.

Além disso, o uso irresponsável dessas substâncias pode gerar um ciclo vicioso: enquanto a pessoa pode inicialmente sentir alívio, eventualmente poderá se encontrar em um estado de dependência e, paradoxalmente, apresentar sintomas que incentivaram o uso dos medicamentos no primeiro lugar. O acompanhamento médico torna-se, portanto, uma necessidade, pois a orientação adequada para a dosagem e o tempo de uso é essencial para a recuperação e o restabelecimento do equilíbrio emocional do paciente.

A pandemia de Covid-19 também fez com que muitas pessoas se voltassem para os medicamentos como uma solução rápida para o aumento da ansiedade e da depressão que se manifestaram durante o período de isolamento social. Conforme mencionado anteriormente, as taxas de venda de antidepressivos cresceram durante este tempo, refletindo a urgência da situação. Este contexto nos leva a refletir sobre os fatores de estresse e as dificuldades emocionais que se tornaram mais evidentes, estimulando a demanda por tratamentos farmacológicos.

Sinais de que a saúde mental não vai bem

É possível detectar sinais de alerta relacionados à saúde mental, que vão muito além do simples “não estou me sentindo bem”. De acordo com o psicólogo Maycon Rodrigo Torres, da Universidade Federal Fluminense, devemos prestar atenção em como mantemos nossos relacionamentos sociais. O isolamento, mesmo em grupos, pode ser um indicador de problemas sérios, e a qualidade das interações interpessoais é primordial para nossa saúde mental.

Os sintomas de transtornos mentais podem variar, mas alguns sinais que podem indicar a necessidade de assistência especializada incluem:

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  • Mudanças no sono: Diferenças notáveis nos padrões de sono, seja por insônia ou por um aumento excessivo do sono.
  • Diminuição da energia: Sensação constante de cansaço e falta de motivação para atividades que antes eram prazerosas.
  • Alterações emocionais: Sentimentos persistentes de tristeza, irritabilidade ou angústia.
  • Dificuldade em manter compromissos: Problemas em cumprir com responsabilidades no trabalho ou na vida pessoal.
  • Problemas de concentração: Ter dificuldade em se concentrar em tarefas simples e rotina diária.
  • Perda de interesses: O que antes era considerado prazeroso agora não traz mais alegria.

Identificar esses sinais precocemente é fundamental para buscar um tratamento eficaz e evitar o agravamento dos sintomas. Os efeitos positivos de um diagnóstico adequado não podem ser subestimados em um contexto em que a saúde mental é frequentemente negligenciada.

Uso de medicamentos para a saúde mental cresce no Brasil; especialistas alertam sobre cuidados

O crescimento do uso de medicamentos para a saúde mental no Brasil é um fenômeno que não pode ser ignorado. Especialistas indicam que a procura por antidepressivos e ansiolíticos aumentou significativamente devido a fatores estressantes, como a pandemia de Covid-19, estigmas em torno da saúde mental e a falta de recursos adequados. A crescente demanda, no entanto, traz à tona questões importantes relacionadas ao uso adequado e responsável desses medicamentos.

Os atendimentos a pacientes que buscam ajuda para lidar com questões de saúde mental estão em ascensão. Na busca por soluções, é vital ressaltar a necessidade de uma avaliação médica criteriosa e um plano de tratamento personalizado. O que pode funcionar para uma pessoa pode não ser adequado para outra, e essa singularidade deve ser respeitada.

É comum observar que muitos pacientes recorrem aos medicamentos por conta própria, sem um diagnóstico profissional que valide a necessidade do uso. Isso pode levar a consequências inesperadas, como o agravamento dos sintomas ou o desenvolvimento de efeitos colaterais indesejados.

Além disso, o acesso a informações e debates sobre saúde mental é crucial. A sociedade precisa estar consciente dos benefícios e riscos que o uso de medicamentos pode trazer. Existe um abismo entre a necessidade de tratamento e o conhecimento que muitas vezes é oferecido a pacientes ou à comunidade. Portanto, promover o conhecimento e a conscientização sobre as questões envolvendo saúde mental é uma forma de proteger os indivíduos de uma abordagem descuidada.

Perguntas frequentes

Por que o uso de medicamentos para saúde mental cresceu no Brasil?
O uso de medicamentos aumentou devido a fatores como a pandemia de Covid-19, o aumento dos transtornos de ansiedade e depressão e a falta de tratamento adequado.

Os antidepressivos são viciantes?
Embora os antidepressivos não causem dependência da mesma forma que algumas substâncias, o uso indiscriminado pode levar a uma adaptação do corpo, resultando em sintomas de abstinência se interrompidos abruptamente.

Como saber se preciso de tratamento para a saúde mental?
Sintomas como mudanças no sono, fadiga persistente, tristeza excessiva e dificuldade em manter relações sociais são indicadores que você deve buscar ajuda.

É seguro interromper o uso de antidepressivos sem orientação médica?
Não, a interrupção abrupta pode causar efeitos adversos e rebote dos sintomas. O acompanhamento médico é essencial para um desmame seguro.

Os medicamentos substituem terapias?
Os medicamentos podem ser uma parte importante do tratamento, mas não substituem a terapia. A combinação de ambos é frequentemente a mais eficaz.

Qual a importância do acompanhamento médico?
A supervisão médica é fundamental para ajustar a dosagem, monitorar os efeitos colaterais e garantir que o tratamento esteja realmente ajudando.

Diante desse cenário, a sociedade deve se unir em um movimento para promover a saúde mental, incentivar a busca por ajuda e eliminar estigmas. Ao aumentar a conscientização e o entendimento, podemos criar um ambiente mais seguro para que todos os indivíduos busquem o suporte necessário. O uso de medicamentos para a saúde mental cresce no Brasil; especialistas alertam sobre cuidados, e é esse cuidado que poderá nos ajudar a enfrentar os desafios emocionais de maneira mais saudável e consciente.