O uso de medicamentos antidepressivos tem aumentado significativamente nos últimos sete anos, mas um aspecto crucial que precisa ser considerado são os efeitos da interrupção do tratamento. De acordo com um estudo realizado na Alemanha e publicado na revista Lancet Psychiatry, cerca de um terço das pessoas tratadas com antidepressivos voltam a sentir sintomas assim que encerram a medicação.
Entre os 21.000 pacientes analisados no estudo, 3% apresentaram sintomas graves após interromper o tratamento, incluindo irritabilidade, insônia, náuseas e dores de cabeça que podem surgir em até duas semanas. A pesquisa, realizada em conjunto pela Universidade de Medicina de Berlim e pela Universidade de Colônia, analisou um total de 79 estudos clínicos, levando em consideração diferentes tipos de medicamentos psicoativos, tempo de uso e métodos de pesquisa.
No entanto, o Dr. Jonathan Henssler, líder do grupo de Saúde Mental Baseada em Evidências da Universidade de Medicina de Berlim, ressalta que apenas metade desses sintomas pode ser atribuída diretamente ao medicamento. O chamado “efeito placebo” também desempenha um papel significativo, onde indivíduos que acreditavam que teriam efeitos negativos ao interromper o tratamento apresentaram sintomas semelhantes àqueles que realmente estavam tomando os antidepressivos.
Os pesquisadores identificaram esse fenômeno como “efeito nocebo”, em que sugestões psicológicas negativas influenciam adversamente o resultado dos testes. Segundo o Dr. Henssler, no grupo que recebeu o placebo, os efeitos do medicamento podem ser descartados, apontando que os sintomas podem ocorrer por acaso ou serem resultado do efeito nocebo.
A interrupção do tratamento com antidepressivos tem sido amplamente negligenciada nas pesquisas da área, mas agora está ganhando mais relevância. Na Alemanha, por exemplo, foram prescritas quase 1,8 bilhão de doses diárias de antidepressivos em 2022, enquanto no Brasil, houve um aumento de aproximadamente 17% no uso desses medicamentos durante a pandemia.
O professor Dr. Christopher Baethge, do Departamento de Psiquiatria e Psicoterapia da Universidade de Colônia, destaca que nos últimos anos, tanto a comunidade científica quanto o público em geral têm se envolvido ativamente em discussões sobre a frequência e gravidade dos sintomas decorrentes da interrupção do tratamento com antidepressivos.
Esses estudos trazem à tona a importância de considerar os efeitos da suspensão dos medicamentos antidepressivos, não apenas no contexto médico, mas também no debate público. A conscientização sobre os impactos dessa prática é fundamental para garantir a saúde e o bem-estar dos pacientes em tratamento.
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