por que as redes sociais não deveriam substituir sua terapia?

Quando se trata de saúde mental, as redes sociais têm se mostrado uma ferramenta ambígua. Por um lado, elas promovem a conscientização sobre problemas psicológicos e oferecem uma plataforma onde as pessoas podem compartilhar experiências. Por outro lado, tornam-se um espaço em que informações enganosas podem proliferar, levando a diagnósticos errôneos e soluções simplistas para questões complexas. Esta análise busca discutir por que as redes sociais, apesar de suas boas intenções, não deveriam substituir a terapia.

A saúde mental está ganhando cada vez mais destaque na sociedade moderna. Para muitos, o TikTok, Instagram e outras plataformas de mídia social se tornaram locais comuns de informação sobre questões emocionais e psicológicas. Uma pesquisa feita pela KFF de 2024 revelou que 66% dos adultos que usam o TikTok já consumiram conteúdo relacionado à saúde mental. Com esse número crescente, surge a questão: será que as redes sociais oferecem um apoio genuíno, ou representam um risco à saúde mental de seus usuários?

A Atração das Redes Sociais na Busca por Ajuda

Um dos maiores atrativos das redes sociais é a acessibilidade. Diferentemente das consultas tradicionais com terapeutas ou psiquiatras, que podem ser cara e difíceis de conseguir, os conteúdos disponíveis nas redes estão ao alcance de um clique. Este fácil acesso faz com que muitas pessoas busquem informações sobre saúde mental em vídeos curtos e posts, onde testemunhos e dicas são compartilhados entre usuários que apresentam experiências semelhantes.

A psicoterapeuta Lindsay Liben enfatiza que a transparência nas discussões sobre saúde mental está melhorando. As pessoas se sentem mais à vontade para compartilhar suas lutas, o que certamente é um passo positivo. No entanto, esse fluxo de informações nem sempre é pautado em evidências sólidas, e o risco de confiar em diagnósticos feitos com base em conteúdos de redes sociais é alto.

Milam, psiquiatra e diretor médico da Iris Telehealth, aponta que é frequente o sofrimento emocional ser debilitante, levando as pessoas a buscarem qualquer solução que pareça acessível. Contudo, a dificuldade em diagnosticar problemas de saúde mental por meio de postagens se deve ao fato de que sintomas semelhantes podem se manifestar em diversas condições. Por exemplo, falta de energia e dificuldade de concentração podem ser sinais de ansiedade, depressão, or mesmo de um cansaço físico temporário, devido a algo tão simples quanto uma noite mal dormida.

Postagens Enganosas e Diagnósticos Errôneos

O lado sombrio dessa facilidade de acesso reside na proliferação de informações incorretas. Estudos recentes destacam que uma quantidade significativa de conteúdo nas redes sociais sobre saúde mental não é precisa. Um estudo publicado no Journal of Autism and Developmental Disorders revelou que 41% dos vídeos sobre autismo no TikTok continham informações erradas ou enganosas. As pessoas são atraídas por essas postagens, com a esperança de se sentirem reconhecidas ou entendidas, mas podem acabar mal informadas.

Além disso, uma análise de 100 vídeos sobre o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) revelou que 52% deles continham afirmações errôneas. Quando alguém assiste a vídeos que afirmam categoricamente “se você se sente assim, você tem isso”, é fácil entender como a dúvida pode se instalar e a pessoa pode ser levada a acreditar que possui uma condição sem um diagnóstico adequado. O julgamento baseado em informações superficiais pode levar a um ciclo de auto-observação que só aumenta a ansiedade e o estresse.

Soluções Simples para Problemas Complexos

Uma questão crítica que surge ao se consumir conteúdo sobre saúde mental nas redes sociais é a tendência a buscar soluções simplificadas para questões que são, na verdade, complexas. Muitos vídeos promovem suplementos, técnicas de relaxamento ou autoajuda rápida, o que pode ser enganoso. Milam enfatiza que, especialmente para jovens lidando com depressão ou ansiedade, soluções fáceis muitas vezes não são eficazes. Dizer que “basta seguir esses passos” pode gerar um sentimento de fracasso quando a realidade é muito mais complicada.

Essa desigualdade entre teoria e prática pode deixar os usuários desolados. Quando tentam aplicar as “soluções” vistas online e não obtêm os resultados desejados, podem acabar se sentindo ainda mais perdidos e isolados. Isso levanta a importância crítica de intervenções mais profundas que muitas vezes só podem ser acessadas por meio da terapia tradicional.

Recursos Confiáveis de Saúde Mental

Se você ou alguém que você conhece está buscando informações sobre saúde mental nas redes sociais, é crucial filtrar o conteúdo consumido. Liben recomenda que os usuários busquem informações de fontes credenciadas, como médicos ou psicólogos licenciados. Verificar as credenciais dos criadores e garantir que o conteúdo se baseie em pesquisa sólida pode ser a diferença entre obter informações úteis e ser enredado em desinformação.

Milam sugere que, ao suspeitar de um problema de saúde mental, é fundamental consultar um médico de confiança. Os profissionais da saúde mental estão equipados para fornecer diagnósticos precisos e orientações adequadas, podendo oferecer um caminho mais seguro e efetivo do que qualquer vídeo ou post.

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Análise: por que as redes sociais não deveriam substituir sua terapia?

A primeira razão pela qual as redes sociais não devem substituir a terapia reside na individualidade dos diagnósticos psicológicos. Cada pessoa é única, e a terapia é um espaço onde esses fatores podem ser explorados a fundo, algo que um vídeo de um minuto não pode proporcionar.

Além disso, a interação com um terapeuta pode permitir que se construam estratégias personalizadas para cada indivíduo, que vão além de dicas generalizadas. Afinal, problemas emocionais geralmente requerem uma abordagem mais robusta e fundamentada. A capacidade de um profissional escutar, compreender nuances emocionais e pessoais é algo que um post ou vídeo não consegue absorver.

A saúde mental é complexa, e embora as redes sociais possam promover discussões e elevar a conscientização, elas não oferecem o suporte necessário para tratar questões que muitas vezes exigem intervenções profissionais. A responsabilidade de cuidar da saúde mental não deve recair sobre plataformas que primam pelo entretenimento e pela rapidez.

Perguntas Frequentes

Qual é o principal risco de buscar ajuda para saúde mental nas redes sociais?
O principal risco é a disseminação de informações enganosas, que pode levar a diagnósticos errôneos e um mal-entendido dos sintomas.

Como posso identificar informações confiáveis sobre saúde mental nas redes sociais?
Procure conteúdo de profissionais licenciados e verifique suas credenciais. Prefira conteúdos que citam pesquisas e evidências científicas.

Por que é importante consultar um profissional de saúde mental?
Profissionais possuem o treinamento necessário para diagnosticar e oferecer tratamentos adequados, podendo compreender as particularidades de cada indivíduo de maneira mais eficaz.

Os vídeos de autoajuda realmente ajudam as pessoas com problemas de saúde mental?
Embora possam fornecer consolo ou estratégia para algumas pessoas, frequentemente não são suficientes para lidar com diagnósticos complexos ou profundos.

Como as redes sociais podem contribuir para a saúde mental de forma positiva?
Elas podem aumentar a conscientização, oferecer suporte comunitário e promover discussões abertas sobre saúde mental, desde que utilizadas com discernimento.

Qual seria a melhor maneira de buscar ajuda se estou me sentindo sobrecarregado emocionalmente?
Considere marcar uma consulta com um profissional de saúde mental e converse com amigos ou familiares de confiança sobre como você está se sentindo.

Considerações Finais

Ao navegar no mundo das redes sociais, é crucial abordar questões de saúde mental com cautela. Embora as plataformas digitais possam proporcionar acesso imediato à informação e até mesmo apoio emocional em alguns casos, elas não devem ser um substituto para a terapia. A saúde mental precisa de um olhar cuidadoso e de intervenções específicas, que só profissionais treinados podem oferecer. Para aqueles que estão lutando emocionalmente, buscar ajuda profissional deve sempre ser a prioridade. A combinação de vento positivo na conscientização e a escuridão da desinformação traz a necessidade de um equilíbrio saudável, onde as redes sociais podem servir como uma introdução ao autoentendimento, mas não como a resposta final.